JORNAL DA GLOBO
09/04/10 - 23h59 - Atualizado em 10/04/10
Favela em São Paulo também foi construída sobre antigo lixão
Em São Paulo também há um Morro do Bumba. Uma favela construída sobre o lixão.
Walace Lara Santo André, SP
Na Favela do Espírito Santo não basta apelar por proteção divina. O perigo vem do chão. "Nós estamos instalados em cima de uma bomba relógio".
Todas as casas foram construídas sobre o antigo lixão de Santo André, no ABC paulista. Um terreno instável, semelhante ao do Morro do Bumba, em Niterói. "Esse líquido que corre embaixo do carro, é tudo lixo".
Apesar de todo o risco, a favela continua crescendo. Um morador, por exemplo, pretende erguer um novo barraco e ele já retirou do solo uma montanha de lixo. "Quando eu desmontei aqui não aparecia tanto lixo entendeu, mas depois que foi cavando que apareceu mais", conta o pintor, José Leandro dos Santos.
O problema é antigo. Há dez anos (13/12/1999) o repórter Walace Lara esteve no mesmo local.
Lixo, barraco, gente, muita gente. São 1.300 famílias. Neste local a cidade do progresso ainda não chegou. "O meu marido está desempregado e a gente veio para cá por caso de necessidade. Não tinha para onde ir", conta uma moradora, Marlinda Tavares.
De lá para cá, ninguém foi retirado das áreas de risco. O Ministério Público determinou que a prefeitura removesse 622 famílias até dezembro de 2010. Para as demais deveriam ser garantidas obras de infraestrutura e eliminação de risco.
Dona Marlinda já mudou, mas não porque recebeu uma casa nova. Ela buscou abrigo na casa da filha depois que a dela rachou inteira. "Procurei vários lugares da prefeitura e nunca resolveu. Falaram que ia resolver e nunca resolveu e a gente continua aqui".
Na prefeitura, ninguém quis falar. Por nota, informaram que "ao assumir a gestão da cidade", em 2009", descobriram que "a verba destinada às obras tinha cláusula suspensiva". O motivo? "A não utilização dos recursos no prazo".
"Eu tenho medo de a minha casa desabar a qualquer momento. Tenho medo de estar dormindo e ela cair em cima da gente", diz a moradora, Liléia Nunes de Jesus.
Medo que depois da tragédia de Niterói agora é de muitos. "Quando há um tipo de uma tragédia muito triste como está havendo no Rio de Janeiro, todo mundo se comove, mas acho que as pessoas tem que se comover antes que aconteça".
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