segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Construção de 38 km de gasodutos ameaça áreas de preservação ambiental do ABC


Obra começou há cerca de um mês e já destruiu milhares de árvores em São Bernardo.
Ambientalistas apresentaram projeto que desviava dutos da mata Atlântica, mas não foi aprovado.A construção de dois gasodutos da Petrobrás abriu um grande corte no que resta de mata Atlântica da região. Há cerca de um mês, caminhões, tratores e guindastes destroem árvores e plantas nativas para dar lugar ao Gasan 2 e Gaspal 2. Os dutos possuem 22” de diâmetro (cerca de 55 cm) e, em seus 38 km de extensão, cortarão Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Mauá, Santo André, São Bernardo e capital. O trajeto passa, em sua maior parte, por áreas de preservação ambiental das cidades. A destruição começou em São Bernardo, nas margens da rodovia Caminho do Mar. Em poucos dias de obras, o resultado já impressiona pelo cenário de destruição da natureza. Apesar das pilhas de árvores nativas cortadas, a obra possui licença ambiental, que demorou 18 meses para ser liberada pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado. A aprovação veio, porém, sob os protestos de ambientalistas da região. O presidente do MDV (Movimento em Defesa à Vida), Virgílio Alcides de Farias, participou das audiências públicas realizadas em 2008 na região representando o Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente). O ecologista afirma ter apresentado à Petrobrás outro trajeto para os gasodutos, que desviava da reserva ambiental. “O projeto, porém, exigiria desapropriações. Não acompanhei todo o processo, mas a licença ambiental acabou sendo dada para a proposta que passava pela mata
Atlântica”, disse.

Prefeituras desconhecem compensações:Dos cinco municípios do ABC por onde passarão os gasodutos da Petrobras, apenas Ribeirão Pires soube informar quais as compensações ambientais previstas para a destruição das áreas de preservação ambiental. De acordo com a prefeitura do município, a empresa estatal fará o plantio de 1,8 mil espécies arbóreas em área a ser indicada, irá repor a cobertura vegetal de 12 mil m² na área degradada e mapeará as áreas de preservação ambiental permanente de Ribeirão Pires. As compensações abrangem ainda o aterro de inertes (entulhos) da cidade, que receberá poços de monitoramento de águas subterrâneas e plantio de vegetação destinado a cerca viva, para o isolamento da área do aterro.Apesar de a obra já ter começado na cidade, a Secretaria de Gestão Ambiental de São Bernardo disse que realiza um levantamento sobre os danos e de que maneira eles poderão ser recompensados. De acordo com o município, o licenciamento é estadual e não foi discutido com o município previamente. Santo André afirma ter encaminhado propostas de compensações em APRM (Área de Proteção e Recuperação de Mananciais) à Câmara de Compensação da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, porém ainda não obteve resposta. Mauá e Rio Grande da Serra não responderam às solicitações da reportagem.O procurou na sexta-feira (27) também a Petrobrás e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado para esclarecer o processo de implantação do Gasan 2 e Gaspal 2. Mas, nenhum dos dois respondeu à reportagem até o fechamento da edição. O Ministério Público do Estado afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que irá interferir na construção apenas se houver denúncias de irregularidades, o que não aconteceu. A obra da Petrobras possui licença ambiental da Secretaria de Meio Ambiente.A construção dos gasodutos é, em menos de três anos, a segunda obra de grande porte que destrói áreas de preservação ambiental do ABC. O Trecho Sul do Rodoanel, construído de 2007 a 2010, suprimiu área verde em zonas de proteção de manancial em Santo André, São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires. Em toda sua extensão,foram cortadas 339 mil árvores dos mais variados tipos e um total de 212 hectares de verde. A Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), responsável pela obra, terá de replantar 3,5 milhões de mudas para compensar esses cortes.“O Estado foi o maior desmatador das zonas de proteção nos últimos anos. O poder público sempre aprovará os projetos, já que é o principal interessado. E para quem o cidadão vai reclamar?”, disse o presidente do MDV (Movimento em Defesa à Vida) Virgílio Alcides de Farias.A Petrobras espalhou diversas placas no Jardim Colina, em São Bernardo, alertando os moradores quanto ao perigo de se aproximar das obras dos gasodutos. Os vizinhos foram procurados por técnicos da empresa na semana passada. “Eles vieram pedir para não deixar as crianças se aproximarem da construção, porque é perigoso”, disse o porteiro Reinaldo da Silva, 47 anos. O Jardim Colina possui cerca de 300 moradores, e está a poucos metros dos gasodutos. Morador há 11 anos do bairro, Silva afirma que a construção e o fluxo de caminhões não alteraram os hábitos do local, mas lamenta o corte de árvores. “É triste ver desmatando tudo. Tem muito bicho por aqui. A gente percebe que o número de pássaros já diminuiu bastante depois da obra”, afirmou. Um técnico da construção que não quis se identificar disse que os animais encontrados durante a obra são levados por biólogos para outros lugares. “Tem sempre um técnico da flora e um da fauna nos acompanhando. Mas os bichos costumam fugir quando já escutam as máquinas. Não há problema”.


















O Gaspal 2 e o Gasan 2 têm o objetivo de ampliar a distribuição de gás no Estado. A expectativa é de que estejam prontos em 2011.Eles terão capacidade para transportar 7 milhões de m3 por dia da estação de controle de gás de Mauá até São Bernardo. O consumo no Estado de São Paulo hoje é de 17 milhões de m3 de gás natural por dia. Com os gasodutos, a meta é chegar a até 25 milhões de m3 por dia.
Fonte: VANESSA SELICANI -Jornal Metro ABC

Nenhum comentário: