segunda-feira, 31 de março de 2008

Grande ABC é área mais vulnerável a tempestades

Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC

O Grande ABC e a Zona Leste da Capital são as regiões mais propensas a registrar tempestades na Região Metropolitana de São Paulo. Ambas recebem, em primeiro lugar, os efeitos das brisas marítimas que avançam sobre o continente, causa direta de 70% das enchentes.
Segundo o meteorologista do Saisp (Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo) Kleber Lopes da Rocha Filho, as brisas estacionam na região quando encontram ilhas de calor formadas pela urbanização desenfreada de grandes cidades como Santo André e São Bernardo.
As áreas de mananciais instaladas no Grande ABC (em função da Represa Billings) não conseguem amenizar as conseqüências do aquecimento das cidades. Depois que a energia incide sobre a superfície acontecem dois fatores: aquecimento do solo e da água. Quando o segundo elemento é retirado, com desmatamentos, o balanço de energia é afetado”, explica Rocha Filho.
A proximidade com a Serra do Mar também colabora para a formação de chuvas intensas na região. Registros feitos pela Defesa Civil do Estado apontam para médias de chuva superiores em Santo André quando comparadas à Capital. “A média climatológica para o mês de fevereiro, nessa cidade, é de 274,5 mm de chuva. Na Capital, são 217 mm”, diz o meteorologista da Climatempo André Madeira.
O temporal que castigou a região na noite da última quinta-feira mostra que os números podem sofrer alterações inesperadas e desastrosas não somente em função do clima, mas também em resposta a intervenções não planejadas no solo. “Temos cidades feitas de cimento e isso gera conseqüências. A água deve encontrar espaço para escoar”, explica Madeira.
A permeabilidade do solo é imprescindível diante de altos volumes d’água.
Durante o mais recente temporal, o posto do Corpo de Bombeiros do Jardim Zaíra, em Mauá, mediu 106 milímetros de água, quantidade que coloca qualquer área em estado de atenção.
“Diante de um cenário como esse não há o que fazer, além de trabalhar para evitar ainda mais tragédias”, diz o capitão Luciano Souza, do 8º Grupamento de Bombeiros do Grande ABC.
Para o engenheiro ambiental da UFABC (Universidade Federal do ABC) Ricardo Moretti, a solução está na remediação de problemas causados pela canalização de córregos e rios. “Rios naturais perdem velocidade na própria vegetação. A água se deposita nas margens, mas, quando está canalizada, ganha rapidez e explode.”