domingo, 25 de janeiro de 2009

Lei impede construção nas margens

Isis Mastromano
Do Diário do Grande ABC

Todas as margens de cursos d'' água no Brasil são consideradas APPs (Áreas de Preservação Permanente) e vem da várzea do Tamanduateí, um dos maiores exemplos de transgressão da mais antiga lei nacional que trata sobre o entorno dos rios.
O Código Florestal, de 1965, é claro: é função do poder público municipal fazer valer a lei, fiscalizar e proteger as margens dos corpos d''água.
O Tamanduateí tem garantido, pelo Código Florestal, faixas que deveriam ser intocadas, onde construções só poderiam ser erguidas a 30 ou 50 metros de distância das margens.
Com a lei virtualmente engavetada, aquilo que deveria ser preservado foi dado para livre uso à iniciativa privada, com o aval das Prefeituras.
Além do setor industrial, os terrenos também foram loteados para residências e estabelecimentos comerciais, sem contar com as ocupações irregulares que se instalaram ao longo do rio.
O geógrafo e ex-supervisor do DEPRN (Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais), Marcio Ackermann, defende que as Prefeituras façam com urgência um diagnóstico de uso e ocupação do solo nas APPs do Tamanduateí.
"Um procedimento necessário para recuperar o rio, é cadastrar e mapear essas APPs ocupadas por setores produtivos em geral, pois as empresas têm fluxo de caixa, têm condições de fazer um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) e, por lei, contribuir no reflorestamento das margens", avalia Ackermann, que é especialista em habitações precárias em APPs e produziu um trabalho de mestrado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) da Universidade de São Paulo sobre o tema.
Hoje, a Recap (Refinaria de Capuava) recupera parte das águas, mas, para benefício único das empresas do Pólo Petroquímico que reutilizam uma porção do Tamanduateí em suas atividades internas.
O bom exemplo de aplicação do Código Florestal vem da zona rural de São Paulo, onde todos os usineiros de cana firmaram um TAC e têm de tirar a cana das margens dos cursos d''água e reflorestá-las.
Fundo estadual repassa R$ 1 milhão ao rio
Além da fiscalização deficitária, ações em benefício do rio vindas do poder público e de entidades civis têm caminhado a passos lentos. Como nenhum projeto apresentado em 2007 para o rio emplacou, o recurso repassado pela Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) ao Tamannduateí ficou acumulado e, mesmo assim, o montante de 2007 e 2008 não passou de R$ 1 milhão.
A secretária-executiva do Subcomitê Billings-Tamanduateí, Márcia Maria Nascimento, disse que o dinheiro deve ser utilizado em educação ambiental, conforme projetos aprovados pelo Comitê da Bacia do Alto Tietê.
Sem data definida, o subcomitê que cuida do Tamanduateí será reformulado este ano, mas ainda não há data definida para a eleição dos novos membros. A presidência do sub-comitê é atualmente ocupada pela Prefeitura de Diadema.
É o Comitê do Alto Tietê que aprova a utilização do dinheiro vindo da Fehidro. Prefeituras, Estado e entidades civis podem utilizar o recurso desde que tenham seu plano de recuperação do rio aprovado.
A verba repassada pelo Fehidro é proveniente de royalties (compensação financeira devida ao Estado pelas empresas) pela utilização dos recursos hídricos. Todo comitê de bacia recebe uma parcela dos royalties.
Ontem, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente informou que está analisando os planos das 19 bacias hidrográficas paulistas entregues no final de 2008.
Enquanto os projetos não saem do papel, São Caetano promete criar um Pelotão Ambiental da Guarda Civil Municipal para intensificar a fiscalização no Tamanduateí. A Prefeitura de Mauá e o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) não informaram planos para melhoraria da fiscalização.
A reportagem procurou os deputados estaduais da região para comentar possíveis ações de proteção ao rio, mas nenhum foi localizado.

domingo, 18 de janeiro de 2009


Arborização funciona como um gigantesco aparelho de ar condicionado natural na cidade.
Fonte Agência USP de notícias

Por Julio Bernardes
São Paulo - Pesquisa feita em três regiões da cidade de São Paulo comprova que a vegetação urbana reduz a necessidade de ventiladores e aparelhos de ar-condicionado para manter o conforto térmico em residências, podendo reduzir o consumo de energia elétrica.
O trabalho foi apresentado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, pela engenheira agrônoma Giuliana Del Nero Velasco, que sugere o plantio de árvores de grande porte no sistema viário para ampliar a redução de temperatura obtida com a cobertura vegetal.
O trabalho analisou áreas com diferentes densidades de vegetação na Zona Sul da cidade, a primeira com 3,72% de cobertura verde, a segunda com 11,71% e a terceira com 33,92%. "Os locais foram escolhidos por geoprocessamento, a partir das imagens de alta resolução do satélite Ikonos II", explica Giuliana.
"Após a aplicação do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) e análise de mapas de clima já existentes, foi feito um levantamento de campo para confirmar os dados do sensoriamento remoto e definida uma amostragem de 100 residências em cada área".
No mês mais quente medido pela pesquisa (março), a área com menor vegetação apresentou 10 graus-hora de calor por dia, contra 3,91 graus-hora de calor da região com maior cobertura vegetal. "Isto mostra que o local com menos cobertura arbórea possui uma necessidade maior de refrigeração aritificial", ressalta Giuliana, acrescentando que a temperatura às 9 horas chegou a ser 2,14 graus maior que a região mais arborizada. "Nessa área, a média de temperatura foi menor, o que resultou em um valor mais baixo de graus-hora de calor".
"Com esses números, ainda não é possível estabelecer uma relação mais direta entre cobertura vegetal e consumo de energia, pois isso depende de outros fatores, como os hábitos de cada morador, a presença ou não dos aparelhos", explica a agrônoma. "Mas o estudo deixa claro que a vegetação reduz a necessidade de se obter conforto térmico de forma artificial".
Giuliana recomenda a ampliação do plantio de árvores de grande porte nas calçadas.
Segundo a engenheira agrônoma, os benefícios serão maiores com o plantio de espécies de grande porte e não de arbustos. "Além de reduzir a temperatura, elas retêm poluentes, absorvem gás carbônico e reduzem o impacto das chuvas em maior escala, pois possuem copa e estrutura para isso", ressalta. "O impacto das árvores na rede elétrica pode ser reduzido com o uso de fiação compacta, que não implica em aumento de custos e evitam podas em excesso".Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Sem chuva da Amazônia, SP vira deserto


13/1/2009

São Paulo tem vocação natural para deserto. Só não é terra seca porque existem os Andes e a amazônia. “Os Andes não vão sair de lá, a não ser que aconteça um cataclisma. Mas destruir a amazônia para avançar a fronteira agrícola é dar um tiro no pé do agronegócio.” O agrônomo Antonio Nobre, 50 anos, 22 deles vividos na amazônia e autor da frase acima, tem se dedicado a estudar e dar visibilidade aos trabalhos de colegas sobre o regime de chuvas no país, uma área difícil, de poucos dados, e fundamental no horizonte do aquecimento global. “A amazônia é uma bomba hidrológica gigantesca que traz a umidade do Oceano Atlântico para dentro do continente e garante que a região responsável por 70% do PIB da América do Sul seja irrigada”, continua. Davilym Dourado/Valor

Antonio Nobre, pesquisador do Inpe: “Temos cinco ou seis anos para impedir que uma catástrofe maior se estabeleça”
Antonio Nobre vem de família rara. O pai era jogador de futebol, a mãe, pintora. Criaram seis filhos com DNA dominante de cientista. O irmão mais velho é Carlos Nobre, um dos maiores climatologistas do país. Paulo estuda como a destruição da amazônia afeta os oceanos e é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde também trabalham Carlos e Antonio. Outro irmão é professor da Fundação Getúlio Vargas, o caçula faz doutorado em ecoturismo no Colorado (EUA). A única mulher do time é psicóloga e astróloga - “faz pesquisa no sutil”, diz Antonio, casado com uma pesquisadora do Inpe.
Com mestrado em biologia tropical pelo Instituto Nacional de Pesquisas da amazônia (o Inpa, de Manaus), e doutorado em biogeoquímica pela Universidade de New Hampshire, há cinco anos Antonio é o homem do Inpa dentro do Inpe. Em sua sala em São José dos Campos (SP), rodeado por quadros da mãe, busca conectar a experiência amazônica com o que os satélites enxergam do espaço. Como todos os cientistas que se dedicam à mudança climática, o que vê não é promissor. “Temos cinco ou seis anos para impedir que uma catástrofe maior se estabeleça.”
Entre os mais novos estudos que vem recolhendo sobre o regime das chuvas, há dados impressionantes. A amazônia evapora, em um único dia, 20 bilhões de toneladas de água. “Este rio voador, que sai para a atmosfera na forma de vapor, é maior que o maior rio da Terra”, diz Antonio, comparando o potencial de chuvas da amazônia às 17 bilhões de toneladas de água que o Amazonas lança todos os dias no Atlântico. “Está se descobrindo que a floresta é dez vezes mais importante do que se imaginava”, diz ele. “Estudos mostram que, nas regiões com floresta, a chuva continua igual por 500 km, 2 mil km; nas regiões do mundo onde ela foi tirada, dentro do continente é deserto”, explica.
O cientista lembra que as primeiras conseqüências do desmatamento já são sensíveis. Em Tocantins, Pará e Mato Grosso já se detectam temperaturas muito altas. O Rio Grande do Sul está perdendo safras. “Não é para parar com o desmatamento da amazônia em 2015. Era para parar ontem. Tem que ser zero, nenhuma árvore mais derrubada. Precisamos replantar a floresta.” Aqui, Nobre explica como chuvas, ventos, oceanos e florestas estão interligados e por que alterar este equilíbrio pode trazer danos irreversíveis à vida:
Valor: Como o senhor interpreta as chuvas que castigam Santa Catarina, Minas, Espírito Santo?
Antonio Nobre: O único comentário que tenho é que lamentavelmente isso pode ser fichinha diante do que está vindo. Eventos extremos sempre aconteceram, mas a Terra tem mecanismos de atenuação. Agora, como a humanidade tem perturbado esses mecanismos, estamos tendo um aumento de freqüência desses eventos. Professores da Universidade Federal de Santa Catarina disseram que o sofrimento que esta chuva produziu é quase 100% responsabilidade da forma como foi feita a ocupação naquela região. É o mesmo que acontece em Minas, no Rio e está sendo imposto na amazônia. Um sofrimento decorrente de construir em encostas íngremes, de cortar floresta e deixar a região fragilizada. O problema não é da natureza, é humano. Santa Catarina é uma região propensa a esse tipo de evento, infelizmente. Mas também é uma prova da falência do sistema político brasileiro, que só atende ao imediatismo. O Código Florestal, desrespeitado, é de 1965 e nem leva em consideração as mudanças climáticas. Se levasse, seria muito mais restritivo, porque só temos cinco ou seis anos para impedir que a catástrofe maior se estabeleça sem chance de retorno.
Valor: O Brasil está enxergando a amazônia com outros olhos?
Nobre: O imaginário coletivo coloca nas florestas tropicais de modo geral, e na amazônia, de modo particular, a sensação de algo de muito valor, de coisa grandiosa, mística. A Amazon.com não escolheu seu nome à toa. As pessoas atribuem esse valor ao sentido de paraíso perdido, de riqueza, de vida. Isso é senso comum. Exceto por um povo no mundo: o brasileiro.
Valor: Por quê?
Nobre: Porque o brasileiro médio acha que está deitado eternamente em berço esplêndido. E ele entende por isso vastas áreas propícias para agricultura, chuvas plenas, clima ameno, rios caudalosos que permitem geração de energia, um eldorado de minerais e agora o petróleo. É um país abençoado. Isso define a visão ufanista de que temos valores extraordinários no Brasil.
Valor: E não é assim?
Nobre: Analise o que falei: área para agricultura, água nos rios para energia, biocombustíveis, minerais, não tem nada vivo! Bem, a agricultura é viva, mas não é natural. O berço esplêndido do brasileiro é a terra aberta, não há registro da nossa herança viva. É a nossa visão cultural. O verde está lá, tremulando na bandeira, mas não o valorizamos.
Valor: Por que não?
Nobre: Várias razões. Uma é a que chamo herança maldita dos invasores. O europeu que chegava aqui, na colonização, era o que tinha de pior naquela sociedade. Mercenários que encontravam uma terra sem lei nem rei, onde havia uma floresta de vigor incrível, ouro, povos sem exército nem pólvora. Toda essa abundância ofertada obscenamente para pilhagem. E com o agravante da Igreja, que dizia que os povos da terra não tinham alma enquanto não fossem batizados. Portanto, o conhecimento da natureza que esses povos tinham valia zero. Assim se removeu o saber indígena do “pool” cultural do brasileiro e o pouco caso com o ambiente passou a fazer parte do nosso caráter.
Valor: Como se muda isso?
Nobre: Primeiro reconhecendo que tem carrapato em cima da vaca. Por que o brasileiro chama floresta de mata? Mata é coisa sem valor. Porque era assim para o invasor e nós perpetuamos a rapina. Continua ativa a mesma mentalidade, hoje disfarçada de direito, que faz parte do nosso sistema de valores, foi incorporada no governo e se disfarçou. Agora se chama desenvolvimento. Temos que reconhecer esse fardo ignaro e pensar positivamente para frente. Parar de brigar ambientalista com desenvolvimentista e redescobrir nossa identidade. O brasileiro tem uma reação forte contra pirataria: “Estão roubando os nossos bens”, diz, indignado. Mas um ataque sem precedentes aos biomas, com tratores e correntões, motosserra e fogo não desperta revolta. É claro que temos que desenvolver, precisamos de agricultura. O Blairo Maggi [governador do Mato Grosso e um dos maiores produtores de soja do mundo] perguntou outro dia se queremos árvores ou se queremos comida. É um dilema totalmente falso.
Valor: Por quê?
Nobre: Porque sem árvores não tem água e sem água não tem comida. Uma tonelada de soja consome várias toneladas de água para ser produzida. Quando exportamos soja, estamos exportando água doce para países que não têm esta chuva e não podem produzir. É o mesmo com o algodão, com o álcool. Água é o principal insumo agrícola. Se não fosse assim, o Saara seria verde, porque tem solos fertilíssimos.
Valor: As pessoas acreditam que chuva é um fenômeno eterno…
Nobre: Pois é. Mas pense numa caixa d´água. Se tem só um cano saindo e nenhum entrando, vai esvaziar. Os rios saem dos continentes e vão para o oceano. Precisa ter alguma volta de água ou seca o continente.
Valor: De onde vem essa água?
Nobre: Essa é uma pergunta que ninguém se faz. Aprendemos assim na escola: a água salgada do mar evapora pela ação do sol, o sal fica no mar e a água doce forma as nuvens. O vento sopra a umidade, chove no continente e a água volta para os rios.
Valor: Está errado?
Nobre: Então devia ter água em todos os continentes da Terra, mas existem desertos, não é? É só olhar o globo e ver que em toda a zona equatorial tem florestas. Ou tinha, as estamos destruindo. Mas nas áreas contíguas, a 30 graus de latitude norte e sul, existem desertos. O Kalahari, deserto da Namíbia, o Atacama, o Saara. Isso tem uma explicação, chama-se circulação de Hadley: a parte central do planeta recebe maior radiação solar, ilumina muito, é uma área muito quente, evapora muita água, a evaporação produz chuvas na região. A produção de chuva faz com que o ar circule assim: sobe no Equador e desce a uns 30 graus norte e sul. O ar que sobe, perde umidade, chove; quando desce rouba umidade da superfície e formam-se os desertos. Só há duas exceções, no Sul da China, um lugar atrás do Himalaia, e na região que produz 70% do PIB da América do Sul, o quadrilátero que vai de Cuiabá a Buenos Aires e de São Paulo aos Andes. Toda essa atividade econômica depende de chuva. Se prevalecesse a circulação de Hadley, seria deserto também. Teria floresta na amazônia e aqui não teria nada.
Valor: E por que não é deserto?
Nobre: Por duas razões. Uma, publicada pelo José Marengo [outro especialista em clima, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe]. Se esta região deveria ser deserto e não é, tem algo na América do Sul que é diferente. O quê? Os Andes, uma parede de 6 mil metros de altura, que corta o continente até a Patagônia. Funciona assim: a massa de ar gira sempre de leste para oeste em cima do Equador e o vento sopra ao contrário na faixa entre a zona equatorial e a polar. A umidade do Atlântico entra sobre a amazônia, a floresta a mantém, e se não existissem os Andes passaria direto ao Pacífico. Mas o ar bate na cordilheira e no verão consegue chegar ao sul e irrigar o nosso quadrilátero produtivo.
Valor: É uma chuva importante?
Nobre: Significa mais de 90% da chuva que cai na região. A transmissão de umidade da amazônia para o centro agrícola da América do Sul é o que faz produzir e não deixa a área virar deserto. A condição dos Andes é importante, é por isso que o pessoal diz que o Acre é onde o vento faz a curva. Mas é o segundo fator que considero o mais importante: temos uma esponja verde como cabeceira de água na América do Sul, a floresta amazônica. As árvores conseguem evaporar mais água do que os oceanos por unidade de área.
Valor: Como é esta comparação?
Nobre: Uma árvore grande, com copa de 20 metros, chega a evaporar 300 litros de água por dia. No oceano, 1 m2 é 1 m2 de superfície evaporadora. Mas 1m2 de floresta chega a ter 8, 10 m2 de folha. Evapora oito, dez vezes mais que o oceano. A floresta é como um radiador de automóvel, é um evaporador otimizado. As folhas são distribuídas em vários níveis por 40 m de altura. O vento vem, encontra a superfície cheia de galhos, faz turbulência, gira, entra pelo meio. Isso ajuda a remover umidade da superfície. Medimos o quanto a amazônia evapora, é um número astronômico: 20 bilhões de toneladas de água em um dia. Para ter idéia do que é este volume, o rio Amazonas lança 17 bilhões de toneladas de água por dia no Atlântico. Este rio voador, que sai para a atmosfera na forma de vapor, é maior que o maior rio da Terra.
Valor: É por isso que o senhor diz que avançar a fronteira agrícola para a amazônia é dar um tiro no pé?
Nobre: Claro. A amazônia é uma gigantesca bomba de água. A evaporação precisa do sol para acontecer. Calculamos quanta energia seria necessária para evaporar toda aquela água. Quantas Itaipus precisaríamos para evaporar um dia de água da amazônia? Precisaríamos de 50 mil Itaipus a plena carga.
Valor: Como atua essa bomba?
Nobre: Cerca de 50% da chuva cai de novo na floresta. O fato de ela absorver essa energia toda na superfície e liberar em altitude, onde condensam as nuvens, produz circulação atmosférica. A floresta gera uma bomba que puxa o vento do oceano para dentro da terra. Chega este ar cheio de umidade, chove, a floresta evapora, o ar úmido continua seu caminho para dentro do continente, chove de novo. São 4 mil km até os Andes. Quando alcança os Andes, ainda está carregado de umidade, bate na cordilheira, desce e vai irrigar as plantações de soja do Centro-Oeste, Sudeste, Sul e segue. Estudos mostram que nas regiões com floresta, a chuva continua igual por 2 mil km. Nas regiões onde foi tirada, lá para dentro do continente é deserto. As primeiras conseqüências do desmatamento já estão disponíveis. O Rio Grande do Sul já está perdendo safras. Se desmatarmos e enfraquecermos a bomba, a região toda vai secar, porque é seu destino natural.
Valor: A amazônia, então, é fundamental para a agricultura?
Nobre: Está se descobrindo que a floresta é dez vezes mais importante do que se imaginava. Tem outros fatores, também: a floresta faz chover. Essa foi uma descoberta fantástica do projeto LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na amazônia). Gotas precisam de alguma coisa sólida para se formarem, é fácil perceber quando se tira uma garrafa de refrigerante da geladeira e formam-se gotinhas em volta. A floresta emite vapores orgânicos para a atmosfera, que funcionam como sementes de nuvens. Mas precisa ser a quantidade certa para chover, se tiver demais não chove. A fumaça das queimadas introduz partículas demais na atmosfera, seca as nuvens e elas não chovem. Durante o período seco, das queimadas, a floresta sempre mantinha uma chuvinha que a deixava úmida e não-inflamável. Agora passam dois meses sem chover. A floresta começa a ficar muito seca e o fogo entra por ela. As árvores da amazônia, diferente do Cerrado, não têm resistência ao fogo. Um fogo bobo mata todas as árvores que têm raízes rasas, e aquela floresta está condenada. Existem árvores imensas sendo destruídas assim.
Valor: Então é um mito que a amazônia é muito forte?
Nobre: É forte quando o regime de chuvas está perfeito, mas com fogo, correntão e motosserra fica difícil. Em Tocantins, está dando 40 graus. No Pará e no Norte do Mato Grosso, registramos temperaturas muito altas. Cuiabá é quentíssima. Já está em curso um processo que a gente não sabe se é sem volta e temos que acabar com a hipocrisia que acende esse debate. Não é para parar com o desmate em 2015. Era para parar ontem, zero, nenhuma árvore mais derrubada. Temos que replantar a floresta.
Valor: O sr. faz uma espécie de militância científica?
Nobre: Foi o efeito da floresta no meu espírito. Eu me senti muito frustrado com tudo o que vivenciei na amazônia. Tive uma fase de militância ambientalista, depois vi que temos que ter pé no chão e não falar só “não pode”. Mas, se destruirmos as florestas, vamos estourar o nosso sistema climático. A condição do sistema terrestre hoje é a de já estarmos na UTI com falência múltipla de órgãos. Isso é o aquecimento global. A queima de combustíveis fósseis tem papel importante, mas a destruição dos órgãos de manutenção do clima, florestas e oceanos é o principal fator para o descontrole global. Não adianta todos os carros virarem elétricos se continuarmos a desmatar.
Valor: Quem conhece as coisas da amazônia?
Nobre: Os povos nativos, intuitivamente. Mas são desrespeitados, não são valorizados. Temos que considerá-los um dia, se quisermos ser uma grande nação. E existe o conhecimento científico disperso em uma enorme variedade de disciplinas. Eu sou um garimpeiro de pérolas, em diferentes áreas. É isso que faço, ligo uma coisa à outra.
Valor: O senhor é otimista sobre a nossa mudança de consciência?
Nobre: Não consigo ver a mudança sem passarmos, infelizmente, por uma catástrofe. Aqui, o crescimento sem controle do agronegócio está danificando o funcionamento hidrológico da América do Sul. Enquanto lá fora se fala em serviços ambientais, aqui é só agronegócio, aço, minério, assuntos do século XX. A gente só chega depois, temos mentalidade de colônia até hoje. Mas o mundo vai depender cada vez mais dos nossos serviços ambientais. O Brasil não é só grãos.
Fonte: Imprensa MST / Valor Econômico.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O que é o Patrimônio Verde?


Patrimônio verde é a biomassa vegetal presente e distribuída pela cidade. As árvores constituem seu principal elemento.
Este patrimônio é um legado construído por pioneiros, e gerações de cidadãos, e que vem acumulando valor através dos anos. Este patrimônio nos chega acompanhado pelo direito de usufruí-lo e o dever de preserva-lo para aqueles que virão.
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

Quanto vale uma árvore urbana?


Uma árvore urbana vale 255 dólares anuais para a cidade.
Este número foi definido por um estudo realizado nos Estados Unidos levando em conta os benefícios que proporciona em termos de economia de energia, conservação de água e solo, melhoria do ar e clima, e valorização de propriedades.
Comprovadamente contribuindo para o conforto ambiental no espaço urbano, a árvore é responsável direta pela:
- Diminuição da poluição sonora (absorção de ruídos)
- Diminuição da poluição do ar (purificação do ar e retenção de partículas)
- Diminuição da poluição visual (vida cor e beleza para as ruas)
- Amortecimento climático (esfriamento do ar no verão, e diminuição do vento no inverno)
- Diminuição da exposição à irradiação solar (proteção contra câncer de pele)
- Proteção contra vendavais (diminui danos as construções)
- Bem estar físico e mental das pessoas
- Equilíbrio ecológico (sustenta flora e fauna, e diminui vetores de doenças)
- Valorização de propriedades
- Elemento visível para valorização da natureza nas novas gerações.
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

Que árvores ajudam mais a cidade?


As arvores de grande porte. Estudos comprovam que uma árvore de grande porte tem a capacidade de esfriar o ar equivalente a quatro aparelhos de ar-condicionado, ligados 24 horas por dia.
O impacto ambiental benéfico das árvores só ocorre quando a cidade possui uma arborização extensa, presente em todas as ruas, e, principalmente, constituída por grandes exemplares.
Mas para atingir este estado elas precisam entre 30 e 40 anos de crescimento. Portanto, é muito mais racional e econômico para cidade cuidar das árvores maduras e plenas já existentes, que, por exemplo, iniciar um re-plantio.
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

Porque as árvores na minha cidade estão sendo cortadas?


Basicamente por dois motivos: desconhecimento do valor de uma árvore, e interesses econômicos.
O desaparecimento de árvores urbanas está ocorrendo em quase todas as cidades brasileiras. Todo dia se matam, envenenam e mutilam muito mais árvores, e em número crescente, que exemplares novos são plantados.
É comum ver que quando uma casa é posta a venda ou aluguel, as árvores da calçada são cortadas para permitir maior visibilidade da placa da imobiliária. O mesmo acontece após uma reforma pelo morador, e se busca impressionar os vizinhos.
Algumas concessionárias de distribuição de energia elétrica consideram a árvore parte do custo de sua empresa, e não um patrimônio da cidade e seus moradores. Redes elétricas antigas, de cabos elétricos nus, exigem podas deformadoras nas árvores que provocam, em poucos anos, a morte de milhares de exemplares.
Observe como está se tornando raro árvores nas calçadas onde passa a rede elétrica.
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

Porque se aceita a morte de árvores urbanas?


O desrespeito sistemático e depredatório desta floresta do asfalto, transformando árvores em esculturas dantescas por poda brutal, ou apenas num remendo na calçada, acaba por provocar uma anestesia, nos insensibilizando para o arboricídio que acontece todos os dias em nossas calçadas.
Que morador iria impedir a poda brutal de sua árvore pela empresa elétrica local? Quem questionaria o arquiteto que projetou o portão da garagem justo onde há uma árvore na calçada? Quem investiria em matar o cupim, em vez de cortar uma grande árvore?
Perdemos o espaço público, do convívio com a vizinhança. Perdemos as ruas e nos isolamos em nossas casas de muros altos, ou "seguros" apartamentos.
As ruas se tornaram um lugar perigoso também para as árvores.
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

Quem esta tomando o espaço das árvores nas nossas ruas?


Os interesses individuais e de mercado se apropriaram negativamente de nossas ruas, que hoje são palco para:
- Lojas derrubarem árvores históricas para estacionamento, ou para destacar a fachada
- Imobiliárias envenenarem e cortarem árvores para dar visibilidade aos imóveis
- Empreendimentos substituírem áreas verdes por construções e palmeiras
- Empresas com redes elétricas antigas, que, com o fim das árvores, evitarem o custo de modernização por redes ecológicas
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

O que é a "arborização anã"?


Uma cidade apenas com arbustos e arvoretas nas suas calçadas, com aplicação de podas de rebaixamento ou corte das árvores cuja altura superar os 5 metros...
Este é o consenso que algumas empresas de distribuição elétrica, cegas ao bem estar dos demais, estão tentando criar nas cidades onde operam.
Nas cidades que a prefeitura e os moradores adotaram esta "nova técnica de arborização urbana" estão se registrando os maiores e definitivos estragos ao seu patrimônio verde.
Este consenso adotado deixa uma arborização insuficiente até para dar sombra a uma bicicleta, mas perfeita para garantir diminuição de custos em podas e crescimento dos lucros da empresa elétrica.
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

Como posso identificar o grau de destruição do patrimônio verde em minha cidade?


O desaparecimento dos grandes exemplares, principal "inimigo" das redes elétricas convencionais, costuma ocorrer em três etapas. E, por mais assustador que possa parecer, isto acontece com a ajuda dos próprios moradores!
Procure identificar se o patrimônio verde esta em perigo, e qual seu estágio de destruição:
Estágio 1 - Quando, em uma rua com árvores grandes, elas estiverem apenas na calçada onde não há rede elétrica. Neste estágio as podas já provocaram a deformação ou morte das árvores mais valiosas
Estágio 2 - Quando os moradores do lado da rua com rede elétrica passaram a plantar apenas árvores baixas ou artificialmente arredondadas. Neste estágio estes moradores já desistiram dos grandes exemplares mutilados, e procuram evitar que as equipes de poda da empresa elétrica estraçalhem suas novas árvores.
Estágio 3 - Quando os moradores do lado da rua sem rede elétrica, "seguindo o consenso", também trocam suas árvores pelos característicos arbustos ou árvores podadas. Neste estágio a cidade assume a arborização urbana anã: as grandes árvores desaparecem e se multiplicam os serviços de poda estética (topiaria).
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

Quais as conseqüências da perda do patrimônio verde?


Com o desaparecimento do amortecedor climático natural há:
- Aumento do calor, inclusive a noite
- Ar mais seco e conseqüente problemas respiratórios na população
- Piora da sensação térmica de frio no inverno, causado pela falta de proteção ao vento
- Maior exposição aos raios solares, causadores do câncer de pele
- Vendavais mais fortes, e conseqüente aumento de danos as propriedades
Os mais afetados pela perda da arborização serão os moradores economicamente distantes das soluções artificiais de conforto como ar condicionado, umidicadores de ar, técnicas construtivas favoráveis, quintais e jardins.
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

É possível recuperar o patrimônio verde perdido?


Sim.
A cidade irá necessitar de recursos, resgatar ou criar um consenso pró-arborização, uma contínua reeducação de seus moradores, e pelo menos 30 anos de trabalho para recriar, em parte, a arborização perdida.
Este texto está sob copyright da ONG TudoVerde (http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=116).

Cidades ignoram política ambiental


Descaso com arborização urbana é exemplo da falta de estratégia municipal.
Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081213/not_imp293187,0.php
Por Alexandre Rodrigues
Mais de 90% dos municípios do País sofreram impacto de alterações ambientais nos últimos dois anos. Mas sua estrutura para políticas de ambiente ainda não é compatível com a gravidade do diagnóstico. É o que informaram prefeitos e secretários das cidades ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou ontem a Pesquisa de Informações Municipais 2008.
Embora a proporção de cidades com conselhos municipais de ambiente tenha mais do que dobrado na última década - subindo de 21,4% para 47,6% entre 1999 e 2008 -, só 1.880 dos 2.650 órgãos consultivos criados para envolver cidadãos na formulação de políticas fizeram pelo menos uma reunião nos últimos 12 meses. Se for considerado o município com conselho ativo e recurso específico para o setor, só 18,7% se enquadram nesse item. Em pouco mais de 16% há secretaria exclusiva, e a área só conta com 0,8% do total do funcionalismo municipal do País. Apenas um quarto das cidades faz licenciamento de impacto ambiental local.
Queimadas e desmatamento são as duas maiores causas de alterações ambientais freqüentes nos municípios do País. Em 2002, o assoreamento de corpos d?água, que contribui com o transbordamento de rios nas enchentes, tinha sido o impacto mais citado pelos gestores. Esse porcentual permaneceu no patamar de 53% em 2008, mas a inclusão de queimadas e desmatamento na lista fez com que essas duas categorias assumissem a dianteira, com 54,2% e 53,5%, respectivamente. Os Estados do Norte e Nordeste apontaram, proporcionalmente, mais impactos ambientais do que os do Centro-Sul.
Em média, os municípios indicaram 4,4 ocorrências de alguma alteração ambiental impactante e freqüente em 2007 e 2008. Na Região Norte, o desmatamento foi assinalado por 71% das cidades; no Nordeste, por 65%. O mesmo se repete em relação às queimadas. Como conseqüência, queixas de poluição do ar, mais ligada no passado aos grandes pólos industriais, foram mais relatadas por prefeituras da Região Norte (36,3%) do que do Sudeste industrializado (19,2%). Ao condensar os impactos ambientais que os gestores consideraram ter afetado as condições de vida de seus habitantes, as regiões Norte e Nordeste tiveram, proporcionalmente, mais cidades atingidas (24% e 20%, respectivamente) do que Sul (9%) e Sudeste (11%).
A cidade de São Paulo listou dez problemas, entre eles poluição do ar e da água, contaminação do solo e degradação de áreas protegidas. No Estado, o assoreamento de rios, que favorece enchentes, foi apontado por 58,1% das cidades. Em segundo lugar, aparecem as queimadas (50,4%), ligadas ao corte de cana, e a poluição de cursos d?água (34,9%), cujo pior exemplo é o do Rio Tietê.
SISNAMA
De acordo com especialistas, os números mostram que é necessário fortalecer órgãos municipais de ambiente. \"Muitos falham em seus objetivos de preservação por não adotarem uma gestão plena, como a responsabilidade pelo licenciamento ambiental. Fica tudo na mão do órgão estadual. Nenhum centavo obtido com a multa de um posto de gasolina irregular, por exemplo, vai para o município\", diz Clarismino Luiz Pereira Jr., presidente da Associação Nacional de Órgãos Municipais do Meio Ambiente. Para Mario Mantovani, da SOS Mata Atlântica, é hora de fortalecer o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), que unificaria os órgãos federal, estadual e municipal. \"Isso garantiria mais verba para resolver os problemas das cidades\", diz.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Depois de pouco mais de um ano da realização do plantio próximo a Sabina, já se nota uma grande diferença.

Descaso ambiental pelo poder público

Avanço imobiliário ameaça água no subsolo de São Paulo

Na rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, no Itaim Bibi (zona oeste de São Paulo), três prédios em construção, quase vizinhos, competem pela atenção de potenciais compradores. Na mesma via, ao menos dois edifícios ficaram prontos nos últimos anos; outro começará a ser construído em breve.
O local é um exemplo do "boom" imobiliário que atingiu a cidade há alguns anos e que trouxe, além de novas opções de residência, prejuízos ao ambiente, como o rebaixamento do nível do lençol freático.
A redução tem causado rachaduras em imóveis, afundado o asfalto de ruas, ajudado a secar lagos e, a longo prazo, pode afetar o nível dos rios da cidade.
De 1997 a 2007, 3.179 prédios residenciais e comerciais foram construídos em São Paulo, segundo a Sempla (Secretaria Municipal de Planejamento). O líder foi o Itaim Bibi (212), na zona oeste, onde, nos últimos dez anos, o lençol freático ficou 4 m mais baixo, diz Milton Golombek, diretor da Abeg (Associação Brasileira de Empresas de Projetos e Consultoria em Engenharia Geotécnica).
A diminuição também foi percebida por ele em Moema e na Vila Mariana (ambos na zona sul), segundo e terceiro colocados em lançamentos imobiliários nos últimos dez anos.
Para construir prédios em áreas onde o lençol freático está mais próximo da superfície, as construtoras precisam drenar a água. E muitos prédios continuam bombeando essa água para a rua, mesmo depois de o imóvel estar pronto, para evitar que o subsolo, onde ficam as garagens, inunde.
Reflexo na superfície - Se grande número de prédios faz isso numa mesma região, o lençol freático não tem tempo de voltar ao nível normal. O rebaixamento gera reacomodação do solo, que reflete na superfície e causa rachaduras e fissuras em imóveis, quando o solo é de qualidade ruim.
Alguns lagos também podem secar, já que não são realimentados pela água do lençol, como ocorreu no parque Água Branca (zona oeste), há seis anos.
Não há um estudo que mostre a quantidade de água do lençol que é bombeada pelos edifícios de São Paulo, segundo a Promotoria do Meio Ambiente, que pretende entrar com ação civil pública contra a prefeitura no início de 2009, para que esse bombeamento seja controlado.
Antes de começar a fundação das obras, no entanto, as construtoras têm que analisar a profundidade da água. Foi em uma dessas medições que Golombek, que também é diretor da Consultrix, empresa que projeta fundações para a maioria das construtoras do país, notou que na rua Tabapuã, no Itaim Bibi, o lençol estava mais profundo do que há dez anos, quando executou outra obra no local.
Mina - O fato também foi percebido por Ariston Santana Pereira, 58, zelador de um prédio na rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, três ruas distante da Tabapuã. "Faz dez anos que isso aqui não vaza. Era uma mina, tinha que bombear água de hora em hora", diz, referindo-se à água do lençol freático.
As possíveis conseqüências disso no edifício são um muro rachado e um pequeno afundamento na entrada da garagem, que já teve de ser reformada pelo mesmo motivo há um ano. O asfalto da frente do prédio também foi refeito há três meses e já está empoçando água em alguns pontos devido a buracos.
Casas interditadas - Um engenheiro de uma construção na Vila Mariana, que não quis se identificar, também afirmou que, em um intervalo de três anos e seis meses, o lençol da região baixou cerca de 1 m. A observação foi feita após medições para o início de obras. De 2005 até 2007, 54 edifícios foram construídos no bairro.
Nas ruas Tumiaru, Joinville e Curitiba e na travessa Ponder, em maio de 2007, casas apresentaram rachaduras e fissuras; algumas foram interditadas. Na época, três prédios de luxo estavam sendo construídos. Hoje, as casas passam por reformas, pagas pelas construtoras. (Fonte: Talita Bedinelli/ Folha Online)