quinta-feira, 19 de março de 2009

Obras do Rodoanel contribuem para a extinção de animais da Mata Atlântica



Apenas 32 animais, de 137 capturados, sobreviveram em parques de recuperação
Menos da metade dos animais retirados do trecho Sul do Rodoanel e que precisaram ser reabilitados em parques sobreviveram. De acordo com informações da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário SA), responsável pela obra, dos 137 animais resgatados que precisaram de quarentena, apenas 32 resistiram. Os outros 105, ou 60% do total, não suportaram os ferimentos e morreram.
Os animais são removidas das áreas desmatadas pela maior obra rodoviária do Estado, que passa pelo ABCD, apenas em casos de urgência, quando precisam de curativos ou cirurgias. Além dos 137 que foram enviados para os parques do Pedroso, em Santo André, Estoril, em São Bernardo, e Parque Ecológico do Tietê e Depave (Departamento de Parques e Áreas Verdes), na Capital, outros 341 animais foram removidos do trecho, mas foram devolvidos para a floresta por não apresentarem ferimentos.
Levantamento - O ABCD MAIOR realizou levantamento das espécies enviadas para os parques. Entre as que morreram no trecho das obras, seis estão na lista de extinção da Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção) do Ibama: duas corujas-orelhudas, um preguiça-de-três-dedos, dois macacos bugios e um lagarto teiu.
Apenas 19 bichos chegaram aos parques do ABCD, todos muito debilitados, de acordo com informações das Prefeituras. O Depave, de São Paulo, que conta com a melhor estrutura para readaptar animais, recebeu cerca de 80% deles, 109.
Grande parte das espécies levadas para os parques era de filhotes que perderam o ninho por conta da devastação ou foram abandonados pela mãe, que fugiu. Além de bichos com fraturas e queimaduras em fio de alta tensão, ONGs (Organizações Não-Governamentais) relatam atropelamentos de bichos que tentam atravessar as rodovias Assistência - O veterinário responsável pelo Programa de Resgate e Afugentamento do Rodoanel Trecho Sul, Plínio Aiud, explica que grande parte dos animais resgatados tinha problemas causados pela degradação anterior do meio ambiente. “Descobrimos que existe população de animais com seleção natural bem ativa. Situações como esgoto a céu aberto, por exemplo, fez com que encontrássemos muitos com verminose, animais debilitados, com bicheira. Além de ferimentos causados por brigas entre eles. Temos um programa muito sério para tratar da fauna do Rodoanel”, destacou.
Plínio disse desconhecer atropelamentos e afirmou que a principal causa da morte dos animais foram as bicheiras, verminoses e traumatismos. A fauna do trecho devastado tem o acompanhamento também do Museu de Zoologia da USP e continuará até dois anos depois da obra finalizada.
Foram encontrados no trecho163 espécies de aves, nove de répteis e 23 de mamíferos, de acordo com Plínio. “As espécies eram as previstas no EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental), nada que surpreendesse”, afirmou.
Estão em fase de construção 24 passagens de fauna ao longo do Trecho Sul. São túneis que passam debaixo da rodovia para que os animais possam atravessar a via sem riscos de atropelamentos. Grande parte delas ainda está em construção, sendo a mais avançada localizada em Mauá, próxima a avenida Papa João 23.
Reclamação - Na próxima reunião do Consema (Conselho Estadual do meio Ambiente), as Ongs (Organizações Não-Governamentais) Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos e Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental) farão uma reclamação formal sobre o tratamento dado aos animais encontrados nas obras do trecho Sul do Rodoanel. O encontro está previsto para o fim deste mês.
Para as instituições, a Dersa deveria ter planejado um espaço para receber os animais em quarentena, e não enviá-los a outros parques como ocorreu. A Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos informa ter acolhido espécies vindas do trecho Sul e nunca ter recebido ajuda financeira para cuidar dos bichos.
A presidente do rancho, Silvia Pompeu, disse que acolheu um macaco bugiu, três bichos-preguiça e um veado, sendo que apenas o último morreu. Foi também o único levado pela Dersa para a ONG. Os outros chegaram via polícia ambiental e um veterinário da Região. O Racho do Gnomos fica na cidade de Cotia, interior de São Paulo, e recebeu grande parte dos animais do trecho Oeste.
Sem ajuda - “A população não tem conhecimento do que acontece com os animais encontrados na obra, da forma como chegam mutilados aqui. E talvez seja tarde para denunciar. Nunca pedimos ajuda financeira. Acho que isso não tem que partir dos soldados, sim dos capitães. Não iremos nos recusar a prestar atendimento aos animais”, afirmou Silvia. Ela conta que os animais não assimilam que estão sendo levados para cativeiro e entram num nível de estresse muito alto. Alguns chegam a contaminar o próprio organismo com adrenalina e morrem até seis meses depois de serem retirados da floresta.
O presidente do Proam, Carlos Bocuhy, espera que o Consema tome providências punitivas. “Os conselheiros apreciaram a obra e aprovaram o Rodoanel mesmo sob protestos dos ambientalistas. Alterações e dúvidas no projeto devem ser rediscutidas. O Consema tem fórum jurídico e precisa tomar providências”, destacou.
Por: Vanessa Selicani -Abcdmaior

Promotoria de Meio Ambiente de Sto.André estuda a possibilidade de instaurar inquérito civil contra a Administração


Paço de Santo André durante ações da Prefeitura em fevereiro Fotos: Luciano Vicioni
O promotor de Meio Ambiente de Santo André, José Luiz Saicali, afirmou que a Prefeitura foi evasiva ao responder ao ofício que solicitava informações e explicações da Administração quanto à reforma paisagística feita no Paço. As mudanças foram feitas em 22 e 23 de fevereiro, quando árvores e arbustos foram retirados dos canteiros da Praça IV Centenário. Nos próximos dias, Saicali deve analisar as medidas cabíveis contra a Administração, inclusive a possibilidade de instaurar inquérito civil.
A resposta do Executivo chegou às mãos de Saicali na tarde desta segunda-feira (16/03) e, de acordo com o promotor, “não foi clara quanto aos objetivos da mudança na vegetação”. “Não consegui compreender o que a Prefeitura realmente pretende fazer. Isso me deixa preocupado”, criticou o promotor. “Não estou satisfeito com a contrapartida da Administração”, atacou. Mais uma vez, a Prefeitura se pronunciou.
“A questão principal é saber se o que a Administração está fazendo está dentro da lei”, pontuou o jurista. No começo de fevereiro, quando a Administração iniciou as obras de mudança paisagística, a intenção do prefeito Aindan Ravin (PTB) era trocar parte das árvores e arbustos dos canteiros e jardins de algumas regiões do município por grama. “Mas é uma atitude questionável, pois tenho conhecimento de estudos que comprovam que essa troca é desaconselhável. Por isso, a meu ver, a Prefeitura não prestou esclarecimentos satisfatórios”, alega Saicali.
Por: Renan Fonseca
ABCD Maior