sábado, 29 de novembro de 2008

Santo André perde mais um Patrimônio Histórico e Ambiental

Torna-se cada vez mais necessária a pressão da sociedade no sentido de preservar o patrimônio histórico e ambiental, pois nossos governos se omitem e o poder econômico nunca irá respeitá-los.

Bairro Campestre perde área verde

Daniel Trielli
Do Diário do Grande ABC
As 280 plantas - desde arbustos a palmeiras de 11 metros - que durante décadas ocuparam o imóvel do número 3.003 da Avenida Dom Pedro 2º, em Santo André, estão sendo removidas. No lugar onde havia uma chácara de 10,9 mil metros quadrados - uma das únicas áreas verdes de relevância naquela parte do bairro - será construído um condomínio residencial com três torres e 276 apartamentos e as construtoras do condomínio Novo Jardim, MAC e Cyrela, obtiveram autorização do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) para remover todas as plantas.
No entanto, a Prefeitura de Santo André conseguiu salvar 95 dos espécimes, que serão usados no projeto paisagístico da cidade. Equipes do Depav (Departamento de Parques e Áreas Verdes) estão desde a semana passada podando e removendo árvores do local e levando-as para dois pontos: a obra de prolongamento da Avenida Lauro Gomes, perto da Avenida Afonsina e a canalização do Córrego Taióca, no Jardim Milena.
O diretor do Depav, Vitor Mazzeti Filho, disse que qualquer morador que tiver autorização para remover vegetação na cidade pode doar a planta à Prefeitura. "Se o munícipe ligar para nós e apresentar a autorização para retirar, vamos até a área avaliar se as plantas são de interesse. Se for, resgatamos e usamos no paisagismo da cidade", explica.
"Quando a construtora recebeu a autorização para tocar o empreendimento, o próprio pessoal do Semasa indicou o serviço de doação", conta Mazzeti. Depois das empresas entrarem, no último dia 6, com a solicitação de doação, técnicos do Depav visitaram o terreno e analisaram as plantas. "Das 280, tivemos interesse por 95. Tem muitas árvores adultas, muitas palmeiras." A remoção das plantas que serão utilizadas pelo Depav deve durar até o meio da semana.
DESTINO INCERTO
Quanto às outras 185 plantas, cabe às construtoras decidir o que será feito - transplante para outros locais por conta própria ou destruição. "Esse remanescente são plantas de menor porte, um arbusto ou uma dracena, sem muito valor paisagístico para nós, com 1,80 metro de altura", diz Mazzeti.
O diretor do Depav explica que caso as empresas decidam por eliminar o restante da vegetação no local, farão isso com recursos próprios, sem o apoio da Prefeitura. E também lembrou que o Semasa exige a preservação de 36 árvores de uma determinada faixa do terreno, consideradas relevantes para a área.
acordo informal não previa derrubada
A remoção completa das árvores da chácara na Avenida Dom Pedro 2º, embora perfeitamente legal e dentro dos padrões do Semasa, quebra um acordo informal entre as construtoras e a ex-proprietária do terreno, Elizabeth Tognato.
Segundo revelou ao Diário, a ex-dona do imóvel havia concordado em vender a área para a MAC e para a Cyrela apenas se houvesse o compromisso de que o bosque que seu pai, Oliver, começou a criar há seis décadas não fosse derrubado. "Espero que seja conservada a magia desse jardim", declarou Elizabeth em setembro.
Contatadas pelo Diário, as construtoras não confirmam nem se pronunciam sobre o acordo, mas informam que a remoção da vegetação no local está "seguindo todos os processos legais necessários" e que, conforme o Semasa exigiu, vão ser plantadas 190 novas mudas no terreno.
Ao ser informada da remoção da vegetação, Elizabeth Tognato disse que não sabia o que estava acontecendo. "Eu não sei como está e não tenho informação nenhuma do que está acontecendo com o terreno. Não posso nem emitir nenhuma opinião", disse Elizabeth.
HISTÓRICO
A chácara da família Tognato foi criada na década de 1940. A casa principal, derrubada em setembro, foi construída entre 1945 e 1946 por Oliver Tognato, fundador e ex-presidente da CTBC (Companhia Telefônica da Borda do Campo), ex-presidente da Fiação e Tecelagem Tognato e ex-secretário de Obras da Prefeitura de Santo André. Oliver mudou-se para a chácara com a mulher Marina e as filhas Suzana e Elizabeth em 1948.