Falta de investimentos em transporte público, carência de áreas verdes, incentivo ao uso do automóvel, cidades cada vez mais impermeabilizadas, o que poderíamos esperar...
Nesta matéria novamente fica claro quanto a nossa sociedade está omissa em relação as questões ambientais e a sua própria qualidade de vida, estamos reféns dos grandes interesses econômicos, que a todo momento só visam o lucro!
FOLHA DE S.PAULO - 29/08/2010
Editoriais
DESERTO PAULISTA
Uma sequência inédita de dias com baixa umidade do ar levou várias cidades de São Paulo a ingressar na faixa considerada de emergência pela Organização Mundial de Saúde -abaixo de 12%. Na capital, a combinação de clima excepcionalmente seco e níveis de poluição acima do normal provocou desconforto generalizado e aumento da incidência de doenças respiratórias, com reflexo nas filas dos prontos-socorros.
Ao sexto dia seguido de umidade do ar abaixo dos 30% -o ideal é que o índice supere os 60%-, a cidade de São Paulo registrou, na sexta-feira, 12%. Nesse patamar, crescem os riscos de manifestação de alergias, pneumonias, arritmias cardíacas e até enfartes.
A massa de ar seco estacionada na região centro-sul do país inibiu a formação de nuvens e bloqueou frentes frias. A decorrente falta de chuvas e as diferenças de pressão acarretaram uma "capa" de poluição sobre São Paulo. O fenômeno é característico desta época do ano, mas atingiu níveis incomuns na última semana.
Na quinta-feira, após sete dias de alta poluição em alguns pontos da cidade, a agência ambiental do Estado (Cetesb) recomendou que a população restringisse o uso de veículos automotores.
Também o prefeito Gilberto Kassab (DEM) veio a público afirmar que a administração municipal contava com um plano de contingência e que não descartava a ampliação do rodízio de carros na capital. A medida já vinha sendo pedida por especialistas em saúde. "São Paulo paga o preço por nunca ter priorizado o transporte público", sintetizou o médico Paulo Saldiva, da USP.
Prevê-se que a situação melhore a partir de hoje. Caso isso não ocorra, a persistência do clima de deserto poderá levar a prefeitura, finalmente, a limitar o trânsito de carros. Ao evitar a medida, o poder municipal certamente terá levado em conta eventuais transtornos e desgaste político.
Se a tivesse adotado, no entanto, teria amenizado o problema nos últimos dias. Entre a saúde pública e os automóveis, é de esperar que o prefeito Gilberto Kassab não hesite em escolher a primeira se for preciso enfrentar um estado de emergência.
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