segunda-feira, 5 de maio de 2008

Alteração humana na Bacia da Billings chega a 47,8%

Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
Quase metade da área da Bacia da Represa Billings já está alterada pela presença humana. Levantamento inédito do ISA (Instituto Socioambiental) revela que 47,8% da área mostra sinais de ocupação residencial ou econômica. O reflexo é sentido na quantidade e qualidade da água produzida pelo manancial.
A maior intervenção é antrópica, com 32,5%. O termo é usado para explicar o grande percentual de pastagens, áreas para uso de agricultura, indústria e mineração, entre outras atividades. O Diário fez um sobrevôo pela bacia e flagrou pontos sem qualquer vegetação nativa.
Em São Paulo, São Bernardo e Diadema, a mancha urbana chama a atenção pela verticalização do espaço. Os moradores constroem pequenos prédios, espremidos em terrenos protegidos pela Lei dos Mananciais. A ocupação representa 15,3% do total destruído.
Para viabilizar as obras do trecho Sul do Rodoanel, que corta as represas Billings e Guarapiranga, um traçado de desmatamento (com licença ambiental, cedida pelo governo) passou a fazer parte do visual da bacia. Aberturas na mata e assoreamento de córregos alteraram as características verdes da região.
Próximo ao Parque do Pedroso, em Santo André, a devastação é enorme. Há morros pelados e novos caminhos em locais onde anteriormente nenhum tipo de transporte tinha acesso.
Os danos gerados à qualidade da água são resultado da falta de um sistema adequado de tratamento de esgoto. Em boa parte dos adensamentos populacionais, não há rede de coleta. Os resíduos domésticos correm direto para a represa, assim como o lixo gerado nas ruas.
A sensação de abandono às margens da Estrada dos Alvarenga - limite entre São Bernardo e Diadema - incomoda pelo cheiro forte de esgoto. Por lá, moradores e comerciantes, instalados em área de manancial, reclamam da falta de estrutura. "Moro aqui há dez anos. Antes, a quantidade de água era maior e a margem ficava mais perto. A Billings está acabando, um dia não vai mais ter água", diz a comerciante Alzenir de Souza.
Apesar das críticas, a necessidade de moradia faz com que a população residente na bacia tema por políticas públicas que envolvam a desapropriação de imóveis irregulares. Do outro lado, ambientalistas torcem pela aprovação de uma lei rigorosa em defesa do patrimônio. A briga não tem data para terminar.