sexta-feira, 31 de outubro de 2008


“A natureza é grande nas grandes coisas, mas é grandiosa nas pequenas.” Bernardin de Saint Pierre

Filhotes de Beija-flor - Foto APC Parque Central

Os pássaros estão sumindo

Os pássaros estão sumindo
O poeta hoje diria assim...
Minha terra já não tem palmeiras, jamais sabiá.
Antigamente os passarinhos tinham apenas dois inimigos: o gavião e o estilingue. Por mais que o gavião exagerasse na gula, por mais que os garotos aprimorassem a pontaria no estilingue, não davam conta de acabar com os sabiás, os gaturamos, os azulões, os coleirinhos, as rolinhas.
Hoje nas cidades, até os pardais estão desaparecendo. Nos próprios bosques, rareiam os gorjeios. E na roça o mato já quase não existe: o fogo queimou, a foice ceifou, o machado tombou, a motosserra matou. Estão no fim as florestas naturais e os fazendeiros e sitiantes parecem não gostar muito de plantar árvores frutíferas. Sem árvores, os pássaros perdem o seu habitat. E se voam à procura de alimentos nas plantações, morrem intoxicados. A química é tanta... nem lagartas sobram para passarinhos comer. Dizem: a minhoca não existe mais como antes. Nem aqueles bichinhos que as juritis catavam no chão.
Dessa forma a primavera fica mais triste. O verde teima em voltar, porem, cada vez mais tímido. As flores ainda se abrem, todavia com medo de serem agredidas pelo chamado progresso. As próprias andorinhas que enfeitavam as praças sentem-se intrusas. Elas e os pombos vão passando a ser visto como algo que incomoda. Na cidade e nos campos a primavera não tem o viço de outrora.
A gente chega a ficar com pena das crianças que estão chegando agora a este mundo.Vão encontrar um cenário sem graça. Um mundo feito de asfalto, fumaça e gigantescos edifícios. Com poucas flores, poucas cores e ausente a poesia... e passarinho em gaiola que nasceu para voar, cantar solto, curtir a liberdade plena.
Até os pardais estão sumindo. Encharcados de gás carbônico, deixam as cidades, eles que, embora feios e sem o dom do canto, ainda animavam um pouco o burburinho das ruas.
Gonçalves Dias haveria de ficar decepcionado se descobrisse que na sua terra as palmeiras estão morrendo e os sabiás estão silenciando. E as borboletas azuis do Casimiro de Abreu? Será que ainda existem borboletas? E ainda mais... azuis? Nem o céu é mais azul: ficou cinzento, poluído, triste.
Sem árvores, sem pássaros, sem borboletas, a vida é aborrecida, a primavera perde muito do seu charme. Como dizia o bom Drummond: os corações estão secos.
Há alguns anos um caçador chegara feliz em casa: matara um nhambu na capoeira do sítio dele. era o último nhambu da última capoeira. E ele estava feliz...
Mas ainda é tempo de salvar este planeta. Pelo menos para as crianças que estão chegando agora ao mundo saibam o que é uma árvore, o que é uma flor, o que é uma borboleta, o que é um passarinho.